CONFIDÊNCIA À HILDA HILST

Nas suas palavras paridas em encantos
e dores
Poderia me ver também,  Hilda?
Pedir que abras os portões
E junto me expor ao tempo?


Não me importa o sereno...

O que me esgota
É não conseguir dormir
O quanto essa noite da existência
Tem sobrecarregado a alma de enganos


Vago sozinha

No entanto, por detrás do tronco rústico
E da veste de um casulo em desgaste
Sinto pulsar o desejo frágil e puro
De mergulhar no próprio oceano obscuro
 
Oferecer a outra face...

Maris Figueiredo

DESALENTO

E QUANDO RIO, ESFREGO AS VESTES
NO ATRITO

DE  SONHOS

ROLAM FEITO PEDRAS

QUEBRADIÇOS

NA ROSA DOS VENTOS,

HÁ  TEMPOS JÁ DESPETALARAM

A LESTE, OESTE...
SEM DESTINO

 EM RESPEITO À MORTE

 SILENCIO

MARIS FIGUEIREDO

FRAGILIDADE

QUERO MESMO!
 UMA HISTÓRIA,
UM FINAL FELIZ COM BRIGADEIRO,
 FATALMENTE VIVER A VIDA COMUM...

QUERO COM LEVEZA,
ASSIM COMO, QUEM SOPRA UMA PENA.
COMO  BOLINHAS DE SABÃO...

QUERO ESCONDER, PRA ESTOURAR MAIS TARDE, O SAQUINHO DE BOLAS DO ELETRODOMÉSTICO QUE CHEGOU...

 QUERO
 ANDAR DE BICICLETA PELAS CALÇADAS,
MASCAR CHICLETE E PRONUNCIAR, SEM OLHARES REPRESSORES,
UM BELO PALAVRÃO...

EU ESPERO
ACONTECIMENTOS DA MARINA

ESCORREGAR NA GRAMA DA QUINTA

COLHER FLORES E MATINHOS

DEIXAR
A MÚSICA BALANÇAR AS CAIXAS DE SOM

FAZER FAXINAS NAS GAVETAS
E PERFUMAR OS ARMÁRIOS


ESPERO A ABSOLVIÇÃO POR NÃO USAR AGASALHOS
E A FRÁGIL FELICIDADE POR CONDENAÇÃO

MARIS FIGUEIREDO

DOCE ENCANTO

EM CANTO INTENSO

EXPLODIU A CIGARRA ENCANTADA PELO TEMPO

TAMANHO E

TÃO CÁLIDO FOI O

ESPANTO AO SENTIR NO ATO A

 NATUREZA DE TEUS CAMINHOS E

 FINAIS...

COLHI OS CACOS ESPALHADOS,

UM MOSAICO,

DESENHADO COM O "PARA SEMPRE"
 EM TEUS QUINTAIS

FOSTE ASSIM, DANÇA SEM FINO TRATO,

ESCULPIDO EM MIM, O SORRISO INGÊNUO DOS

MORTAIS

SELVAGEM NATUREZA EM TEUS CANTOS QUE

INVADE O VENTO DE RETALHOS

E MATO VERDE PINCELADO DE RAIOS,

SINALIZANDO EM MIM, TEUS SINAIS

E

A APARÊNCIA DE CAMPOS

NO MAIS DOCE EXTRATO

DAS  SUAVES VOZES,

TUA ESSÊNCIA  VORAZ

PRINCÍPIO E FIM ÉS, EM MEIO A

TUA  PUREZA REBUSCADA ENTRE OS TALOS...

TUA  SEIVA CARREGA TERNAMENTE

MEUS AIS

MARIS FIGUEIREDO

ÚTERO

POR ALGUMAS  HORAS, TENHO VONTADE DE RETORNAR AO ÚTERO DO ESPAÇO, REDIMENSIONAR, REPENSAR, REFLETIR O "TUDO" E O "TODO" DIVERSOS, INVERSOS... E PROSAS. MEUS SENTIDOS DOÍDOS, DESCONCERTANTES E  MEUS EQUÍVOCOS. MEUS SONHOS, INCERTEZAS E OS VERDADEIROS ENCONTROS...

"PRA SEMPRE" É MUITO TEMPO ESPERANDO, PARECE FATALIDADE!

 QUERO OUVIR  CONCERTOS! EXPANDIR, RESPIRAR FUNDO, BANHAR A ALMA DE LUZ ... ACONCHEGADA DE ZELOS.

EU ESTOU EM EMBARAÇOS, PROCURANDO A PONTA DO FIO DESSE NOVELO.
O AMOR TÁ ESCASSO...

Maris Figueiredo

AMANHECER

SENHOR,

QUE O PERFUME DAS ROSAS SE ESPALHE PELA NOITE. QUE  NO DESABROCHAR DA MANHÃ, O FRESCOR DA ESPERANÇA E A RENOVAÇÃO DA VIDA NOS DESPERTE NÃO APENAS O CORPO FÍSICO, MAS A CONSCIÊNCIA DA EXISTÊNCIA DE UMA CENTELHA DIVINA QUE HÁ NO CORAÇÃO DE CADA UM DE NÓS...

QUE ASSIM SE FAÇA!
ASSIM SEJA!

Maris

CONSIDERAÇÕES SOBRE A LOU(CURA)

Creio no ar, na aurora boreal, no sonho, no amor... Na lua, em mim! E Acreditar em mim é o esforço de me encontrar todos os dias. Nem sempre me vejo. 

Loucura bendita é acender a própria luz. 

"Vós sois Deuses"


 Emocionar-me diante da divindade que brilha, iluminando essa loucura toda bendita de lapidar o sentimento, de abrir o coração e de perceber que um dos significados pra "SER" aqui é justamente olhar-me cara a cara através daquele que ele afirmou ser irmão.

Lucidez seria  manter o peso das velhas capas...

Eu quero os balões da loucura atrevida, de cores que ganham as alturas. Dar a gargalhada espontânea pelos olhos, daqueles que se reconhecem, se escutam sem precisar falar.  Expandir afeto, acolhimento, criatividade diante da sensação de que sempre existirá uma interrogação desafiando para o que virá, o que inventar e do que é imprescindível alcançar...

Loucura bendita!

Maris Figueiredo

Inutilidade Pública

Hoje, levei meu pai ao médico, avistei rapidamente um daqueles anúncios : "Trago a pessoa amada em três dias".
Ri e pensei na inutilidade desse serviço pra mim.
Às vezes, ou quase sempre, somos patéticos.



Maris Figueiredo

Atrás do meu rabo...

Fico pensando o motivo de escrever tantas bobagens... Me espio à distância,  percebo então, alguém correndo sempre atrás do rabo, girando no mesmo espaço, marcando passo... Lambendo o chão!

Maris Figueiredo

Sweet Water - Marcus Viana e Sagrado Coração da Terra

Sweet water - water of the spring
so clear, so pure
Where all my dreams begin.
Sweet water - dark water of the river
take away my sorrows, my soul deliver.
Sweet water - water, waterfall
Let me into you hall of light.
Sweet water - water of the lake
so quiet, so deep
There's a lady there for you to meet.
Sweet water - water of the rain
Carry away the bad thoughts
and is lost - make me sane.
Sweet water - water of the desert
i will find you hidden well
and drink from you forever.
Sweet water - water of the sea
dolphins, whales and mermaids
Sing your song to me.

DEVANEIOS E ALGODÕES

 

"AMORAS NO PÉ, AMOR BEM QUER, AROMA CAFÉ"... 

DORME AO MEU LADO, ACORDA BRINCANDO E PERGUNTA TODO DIA:

COMO ESCULPIR ALGODÕES DOCES?

 NÃO SEI RESPONDER... NA SUA PRESENÇA  ME DISSOLVO,  EXPLODO O VERBO, FAÇO RIR DE GOZO INGÊNUO ACONCHEGADO. 

SABOREIO TORRÕES  DESSE SEU AÇÚCAR, DESSE SEU NO MEU, MEIO AMARGO... 
PRA MIM O SEU LEVEMENTE ADOCICADO DE TRAQUINAGENS, DE TERNURA TEM FEITO TODA A DIFERENÇA, COMO VOLTAR À INFÂNCIA  E SABOREAR AQUELES “COLORIDOS DELICADOS”. TEM SIDO COMO ESTREAR RODA GIGANTE, E POR SER ASSIM: TUDO ISSO E MAIS UM POUCO...  ME FAZ DANÇAR OUVINDO MÚSICAS NOS PÉS  ENCANTADOS,  QUE TE ACOMPANHAM DESCALÇOS, DESPREOCUPADOS...  

SINTO TANTO PRAZER DESSE CHÃO QUANDO PISO, DESSE CHEIRO AMADEIRADO, QUE COMPARTILHAR  CONTIGO TEM SIDO MISTURAR NOSSOS HÁLITOS... TODO AR COM SABOR MOLHADO A EVAPORAR NAS MANHÃS COMO GOTÍCULAS DE ORVALHO.

FICO ME PERGUNTANDO:

ESCULPIR NUVENS?

O CÉU NUNCA ESTEVE TÃO FÁCIL DE ALCANÇÁ-LO!

MARIS FIGUEIREDO 

ENGASGO DOS MALEFÍCIOS [SEN]TIDOS

Há situações que machucam a alma. Nem sempre percebemos... Engasgam. É como a pena que escreve linhas destoadas, desenganadas, enroladas em longos pergaminhos. E a confusão entre manchas e palavras faz com que pedrinhas lançadas ao lago formem ondas desavisadas, transformando cenários em outras paisagens ainda não reveladas.
Sinto muito quando posso ser motivo, ou deixo que me usem como espinho... Tenho tantos equívocos e colho os matinhos que nascem à beira da calçada. No entanto, durante a caminhada, tento não fechar os ouvidos aos cantos dos passarinhos, aprecio o céu, o mar... Assim como sinto o perfume das flores que habitam distante...
Estou tentando, meu canto parece, às vezes, uma revoada silenciada na busca nem sempre “educada” pelo equilíbrio e autoconhecimento. Ora, dilacerante, ora é doce, tranqüilo, relaxado... É difícil desconstruir casulos seculares...

 

 

Maris Figueiredo 

CARTA DE ADEUS

Aos dias abissais,
Daqueles esquecidos atrás de muros:
Essas proteções derretidas, frágeis, degelo
Das emoções contidas e aquecidas
De choro no escuro...

Aos dias abissais,
Daqueles que a única dádiva é
Alimentar os musgos
E todo um  verde
Espaçado de esperança
Que se enraíza, prometendo
Transformar o futuro...


Aos dias abissais

Daqueles emudecidos pelos pesares
Marcados dos passos descalços de um tímido sorriso...
Desabrochar de vida para o
Portal iluminado que se abre

Adeus!

Pois que já avisto
Ao longe a amplidão das esferas
Descortinando um verde azuladinho brilhante,
Entre tons lilás das minhas cortinas e
Não fecho mais as janelas

Peixes dançam
Em um rio encantado, 
 Onde um barco de papel flutuando,
Na imaginação do menino que o segue empurrando,
Carrega tantos sonhos

Avisto
Nuvens delicadas se aprumando
E de mansinho respingos de chuva molham
Os campos


Adeus!

Maris Figueiredo

MEMÓRIAS

 

AMO O COTIDIANO, O SEGUNDO DE ENCANTAMENTO.  SUA SIMPLICIDADE... A VIDA NOS DETALHES DESCRITOS EM SENTIMENTOS...

ACHO QUE É O MOMENTO EM QUE A ALMA SE PRESERVA ANÔNIMA NA FELICIDADE QUE NÃO ALARDEIA. APENAS SENTE...

SILENCIOSA, BRILHA, SORRI... POR ISSO, TRANSFORMA TUDO NO BELO QUE ESPELHA!

 

MARIS FIGUEIREDO

 

 

 

 

CARTA AOS DIAS EM QUE O MAR ARREBENTA

Às vezes, o mar arrebenta. Quebra recifes, parece desordenado. E tudo é tormenta. 

De repente, as ondas perdem força, o mar recua... A areia retorna e desliza suavemente em filetes de água. A vida parece o mar. Meu cenário nesses dias é de desconstrução... Procuro uma ilha. Uma grande falta de coragem me sentir aflita aos movimentos comuns da vida.

Me recolho num esforço inúmero pra acompanhar os movimentos do mar em dias de tormenta e gozar sua brandura.
Ultimamente, tenho fechado os olhos e mergulho... Castelos na areia não sobrevivem, mas são belos e alegram a alma. Desconstruções e construções são condições de quem existe, e existir me parece mais que viver.

MARIS FIGUEIREDO

CARTAS PARA O SOL DAS MANHÃS DE ENCANTO

TEUS CÉUS SÃO RISCADOS DE RIMAS, NUM PERFUME DE ROSAS...
TRAÇADOS DE UM MAPA NO ASTRAL, DESENHADO EM TUAS MÃOS CORAJOSAS. E QUÃO GRANDE  A EXPLOSÃO QUE TE DESPIU DAS LUZES, MERGULHANDO NO CAOS DA ILUSÃO TERRENA, TE TORNANDO SIMPLES CAMINHANTE...

A NOITE ESCURA TE GUARDA, ACOLHE COM TEU MANTO...TEU BERÇO DE ESTRELAS NO ANOITECER DAS GALÁXIAS, SOPRA SONS DE ACALANTO...

TÃO PROTEGIDO ESTÁS SEM QUE TE PERCEBAS. 

A MAGIA DO AMOR QUE ENSEJAS, SE ESPALHA MISTERIOSAMENTE EMPREGNANDO A ATMOSFERA AFLITA DE ENTENDER O QUE REALMENTE SOMOS.

POR ISSO, DISTRAÍDO, TEU OLHAR DISTANTE,  OUVE AO LONGE, AS VOZES QUE AINDA ECOAM DE UM PARALELO MUNDO QUE ATRAI AS LEMBRANÇAS DE OUTRAS EXISTÊNCIAS.  
 
EU SINTO TUA ALMA FLUTUANDO POR  INSTANTES, UMA NOSTALGIA INVADE OS MEUS, OS TEUS DIAS... POIS AINDA LEMBRAMOS DOS
TRIGOS QUE BALANÇAVAM NOS CAMPOS, DAS HERAS VERDINHAS, DOS SERES SIMPLES QUE HABITAM O MUNDO, SERVINDO À  NATUREZA E PROTEGENDO A VIDA.

OS SÉCULOS PASSARAM VIAJANDO NAS HISTÓRIAS QUE CONSTRUÍMOS  E NAS EMBARCAÇÕES NOS REENCONTRAMOS, NOS DESPEDIMOS... DEIXANDO APENAS AS SENSAÇÕES QUE GUARDAMOS. 
PENSO QUE ESSE MAR DAS MEMÓRIAS MERGULHADAS, NOS AGUARDA O DESPERTAR DE UM SONO...

NO CÉU DE CONSTELAÇÕES E MISTÉRIOS TECEMOS NOSSAS RENDAS EMBARAÇADAS ENTRE FIOS DE BELEZA, HARMONIA... MAS TAMBÉM, DE ENGANOS.

SENTINDO QUE TE AMO, GUARDO APENAS A SENSAÇÃO DE ERAS E PROCURO ME ENGANAR, CHAMANDO DE ANOS. 

AS FLORES CRESCEM, OS RIOS SEGUEM, O MAR INVADE.... TRISTEMENTE A NATUREZA FENECE TÃO DIFERENTE DAQUELES TEMPOS QUE NOS ENCONTRAMOS...

QUE SAUDADE DA ESSÊNCIA DO QUE SOMOS...
DE UM COLORIDO DELICADO RODOPIANDO ENTRE AS RAMAGENS, NAS SAUDOSAS TARDES QUE NOSSAS TESTEMUNHAS ERAM O CÉU, FLORES, PÁSSAROS E ÁRVORES SECULARES....


Maris Figueiredo
Maris Figueiredo

CONSIDERAÇÕES SOBRE OS SÉCULOS QUE PASSAM POR NÓS

Ensaio em direção aos doces precipícios de mim mesmo ao tentar deixar os tolos medos e as opiniões boçais de quem nunca viveu esse estado. Percebendo que ainda posso volitar sobre flores e ver beleza nas pedras que porventura, venham machucar...




Maris Figueiredo